Ao investir quatro vezes mais dinheiro na criação de animais do que no cultivo de plantas, a União Europeia vem fazendo com que as dietas que mais poluem se tornem ‘artificialmente baratas’, conclui estudo.
Mais de 80% do dinheiro público destinado aos agricultores por meio da Política Agrícola Comum (PAC) da UE foi direcionado para produtos de origem animal em 2013, apesar dos danos que causam à sociedade, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Food.
“Descobrimos que a PAC apoia de forma desproporcional os produtos de origem animal em relação às alternativas de origem vegetal”, afirmou a autora principal Anniek Kortleve, da Universidade de Leiden, nos Países Baixos.
Para calcular o apoio total da UE aos produtos de origem animal, os pesquisadores vincularam registros de subsídios a um banco de dados acadêmico sobre fluxos de alimentos e rastrearam o dinheiro público ao longo da cadeia de suprimentos em 2013, o ano mais recente para o qual este último tinha dados disponíveis. A PAC foi reformada duas vezes desde então, mas a divisão nos subsídios diretos – antes de considerar os fluxos comerciais – permaneceu aproximadamente constante para alimentos de origem animal e vegetal.
Os pagamentos diretos aos pecuaristas representaram metade dos subsídios – dos quais 57 bilhões de euros foram orçados em 2013 – descobriram os pesquisadores. O restante foi em grande parte composto por subsídios que apoiam a pecuária, especialmente para a produção de ração animal.
Para a carne bovina, o estudo relatou que os subsídios de cerca de 0,71 euros por quilo aumentaram para 1,42 euros quando a ração foi considerada no cálculo.
“Produtos de origem animal forneceram apenas 35% das calorias e 65% das proteínas consumidas na União Europeia. No entanto, a grande maioria, 82% do orçamento da PAC para produção de alimentos, foi gasta em produtos de origem animal, dos quais mais da metade (44%) foi destinada à produção de ração animal”, afirma o estudo.
Para produzir a mesma quantidade de proteína, a carne bovina requer 20 vezes mais terra do que nozes e 35 vezes mais do que grãos.
O sistema alimentar global é responsável por aproximadamente um terço das emissões de gases de efeito estufa, ocupa metade das terras habitáveis do planeta e consome mais de quatro quintos de toda a água utilizada. Como resultado, diversos estudos têm destacado que uma transição para um sistema alimentar com baixas emissões, rumo a dietas mais ricas em plantas, é urgentemente necessária e pode até resultar em maior segurança alimentar.
A pesquisa surge no momento em que os governos europeus enfraqueceram várias políticas de meio-ambiente diante de protestos furiosos de agricultores. Dentre eles, na última semana, os Estados membros da UE concordaram com uma proposta da Comissão para diminuir e adiar algumas das condições ambientais que os agricultores devem cumprir para receber subsídios.