A campanha “Scrap Factory Farming” (SFF) entrou com um recurso no Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) para responsabilizar o governo do Reino Unido por sua falha em proteger o público das mudanças climáticas e do risco de futuras pandemias representadas pela pecuária industrial.
Humane Being, organização sem fins lucrativos por trás da campanha, afirma que o apoio do governo à agricultura industrial está arriscando milhões de mortes devido à crise climática, futuras pandemias e resistência a antibióticos. A equipe jurídica da campanha, liderada pelo renomado advogado de direitos humanos Michael Mansfield QC, diz que o governo está bem ciente desses riscos e não está informando e protegendo o público.

Humane Being
“Este caso inédito no mundo se junta a uma lista crescente de casos perante oTEDH que buscam lidar com a crise climática”, disse Lorna Hackett, advogada da equipe jurídica da SFF, “mas é único ao abordar também os riscos de resistência a antibióticos e pandemias. Ao contrário de casos já julgados na França, Suíça e Portugal, nosso desafio ao governo do Reino Unido identifica especificamente os riscos climáticos representados pelas emissões descontroladas de metano agrícola e pelo desmatamento. A agricultura industrial nos níveis atuais simplesmente não é compatível com os compromissos de redução de emissões do governo, incluindo o Global Methane Pledge”.
Global Methane Pledge uma promessa assinada por 110 países de reduzir as emissões mundiais de metano em 30% até 2030.
Criação intensiva de animais
Falando sobre os riscos de uma futura pandemia representada pela pecuária industrial, a Dra. Alice Brough, veterinária de suínos do Reino Unido e co-requerente do desafio legal, disse:
“As fazendas intensivas criam o terreno fértil perfeito para doenças, incluindo aquelas com potencial pandêmico humano, com milhares de animais estressados amontoados em ambientes imundos”.
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Devido às condições e práticas comuns, os antibióticos são frequentemente exigidos em excesso nessas fazendas, aumentando o risco para os seres humanos. Recentemente os cientistas encontraram superbactérias na carne do Reino Unido. Desde outubro de 2021, houve 116 surtos de gripe aviária no Reino Unido, um histórico e zoonose atualmente pertinente – um aumento de quase 400% na temporada 2020-21.
Com a gripe aviária devastando fazendas e colônias de aves selvagens em todo o mundo e vários casos de infecção humana este ano, além de dezenas de casos humanos de gripe suína e sete mortes na Índia, todos os governos deveriam estar enfrentando as ameaças à saúde pública representadas pela criação intensiva de animais.
Os vastos requisitos de alimentação para animais de criação intensiva levam ao desmatamento devastador em outras partes do mundo, como a América do Sul, e contribuem significativamente para a crise climática. Cada parte dessa prática é uma bomba-relógio para nossa espécie.
Uso de antibióticos em animais de criação
A Dra. Shireen Kassam, consultora médica que apoia a campanha, acrescentou: “Corremos o risco de uma pandemia muito pior do que a Covid-19. (…) O uso agrícola de antibióticos contribui para a resistência antimicrobiana, que já está matando 1,27 milhão de pessoas em todo o mundo a cada ano. Em 2020, o governo do Reino Unido relatou 178 novas infecções resistentes a antibióticos todos os dias somente na Inglaterra. As mortes relacionadas ao calor no Reino Unido atualmente são 4.000 e só vão piorar devido às mudanças climáticas, pois vemos condições climáticas mais extremas, como a onda de calor na semana passada [verão europeu 2022]”.
Os advogados da campanha pediram que seu pedido tenha uma avaliação prioritária pelo tribunal.