A soma das emissões de metano das 15 maiores empresas de carne e laticínios do mundo é igual a 83% das emissões totais de metano de toda a União Europeia. As emissões totais incluem os setores da pecuária, combustíveis fósseis e resíduos.

As emissões combinadas dessas empresas equivalem a 12,8 milhões de toneladas, número que representa uma emissão maior do que países como Rússia, Alemanha ou Canadá. 

Se essas empresas fossem uma nação, esta seria a décima maior emissora de gases de efeito estufa do planeta.

Essas informações foram divulgadas no relatório “Emissões impossível – Edição metano: Como a indústria de carne e laticínios está aquecendo o planeta”, publicado neste mês pelo Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) e a Changing Markets Foundation. A pesquisa analisou 5 empresas de carne 10 de laticínios.

“Isso me surpreendeu”, disse Shefali Sharma, diretora do escritório europeu da IATP. “Não podemos continuar tendo esse punhado de empresas controlando tantos animais.”

Pesquisadores admitem no relatório que a falta de transparência das empresas dificulta a medição precisa das emissões de gases de efeito estufa. Os resultados foram estimados com base em dados disponíveis publicamente sobre a produção de carne e leite e práticas pecuárias regionais.

Emissões de metano de empresas individuais em comparação com as emissões de metano da pecuária de países. Em azul dados da fermentação entérica e, em vermelho, dados da gestão de estrume. Fonte: IATP

Dentre as 15 empresas analisadas, duas brasileiras lideram a lista: JBS e Marfrig, com a JBS sendo responsável por quase 40% das emissões pecuárias dessas corporações. 

Apenas as emissões produzidas pela JBS excedem as emissões combinadas de metano na pecuária da França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia.

Quanto à Marfrig, o documento aponta que as emissões de metano da empresa estão no mesmo nível das provenientes da pecuária na Austrália.

O problema do metano

Incolor, inodoro e invisível a olho nu, o metano é responsável por mais de 25% do aquecimento global que vivemos hoje, de acordo com a Organização das Nações Unidas. Devido à sua estrutura, o metano retém mais calor na atmosfera por molécula do que o dióxido de carbono (CO2), tornando-o 80 vezes mais nocivo que o CO2 por 20 anos após sua liberação.

As emissões da pecuária, através do estrume e das emissões gastroentéricas dos animais, representam cerca de 32% das emissões de metano causadas pelo homem.

Conclusão do estudo

O relatório recomendou reformas para ajudar a reduzir as emissões e o colapso climático, incluindo governos exigindo que as empresas relatem as emissões de gases de efeito estufa e promovendo uma “transição justa” para longe da pecuária industrial, reduzindo o número de animais por fazenda. 

“Que a pegada de metano de apenas 15 corporações transnacionais de gado seja tão significativa deve ser um alerta para governos e organizações intergovernamentais. Deve catalisar ações governamentais urgentes para regular esses atores, obrigando-os a reduzir as emissões de metano para evitar o excesso de temperatura”.

As empresas também devem estabelecer metas para reduzir as emissões e serem mais transparentes sobre a produção de metano, concluiu o relatório.

Foto da capa: Human Cruelties