A brasileira JBS, um dos maiores frigoríficos do planeta, comprou 8.785 bovinos de três fazendas que desmataram a Amazônia em Rondônia. 

Uma investigação inédita realizada pela Repórter Brasil, em parceria com o Greenpeace Brasil descobriu que as compras irregulares ocorreram durante pelo menos quatro anos, entre 2018 e 2022, sem que os sistemas de monitoramento da empresa barrassem os negócios. 

Todas as fazendas pertencem à quadrilha de infratores ambientais coordenada por Chaules Volban Pozzebon, que está preso por extração ilegal de madeira e é considerado o maior desmatador do país, além de ter sido condenado por usar mão de obra escrava. 

A JBS confirmou os dados obtidos pela reportagem e admitiu não apenas as compras irregulares como a participação de seus funcionários no esquema. Segundo a companhia, essas compras foram registradas em seu sistema como tendo origem em uma outra fazenda, do mesmo grupo, que estava liberada pelos critérios socioambientais. 

As compras irregulares da JBS viraram peças de carne das marcas do frigorífico vendidos no Brasil e podem ter sido exportadas para quatro dos cinco continentes do planeta. Mas os consumidores brasileiros não tiveram nenhuma chance de saber, já que no sistema de transparência da empresa, onde é possível consultar a origem da carne comprada no supermercado, as remessas oriundas das fazendas irregulares aparecem apenas sob o nome genérico “Fazenda”.

Irregularidade em Rondônia não aparece no sistema de transparência da Friboi. Fonte: Repórter Brasil

A Minerva, outra gigante do setor de carnes no Brasil, também adquiriu 672 animais de uma das fazendas com desmatamento ilegal dos criminosos. Os repasses ocorreram ao longo do ano de 2021, embora o frigorífico tenha confirmado que a fazenda estava bloqueada em seu sistema desde 2018, “por apresentar irregularidades em 2014, 2016, 2018, 2019 e 2020 e, também, por apresentar sobreposição de polígono de embargo do Ibama”.

Desmatamento em alta

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) anunciou em agosto que a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos.

De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 km² de floresta, o que equivale a sete vezes a cidade de São Paulo.

Ainda de acordo com os novos dados do Imazon, essa foi a segunda vez consecutiva em que o desmatamento passou dos 10 mil km² no período de um ano.

“O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.