Na capital do Irã, Teerã, passear com os cachorros em vias públicas já é um crime, medida que foi implementada com a justificativa de “proteger a segurança do público”.
Ao mesmo tempo, o Parlamento iraniano poderá aprovar em breve o projeto de lei de Proteção dos Direitos do Público contra os Animais, que restringiria a possibilidade de ter animais de estimação em geral.
Segundo o projeto de lei, a posse de animais de estimação estaria sujeita a uma autorização emitida por uma comissão especial. Também impõe uma multa mínima de cerca de US$ 800 (R$ 4,3 mil) para a “importação, compra e venda e transporte” de vários animais, incluindo gatos, cachorros, tartarugas e coelhos.
Os animais, particularmente os cães, são considerados impuros pela tradição islâmica. Aos olhos do novo regime, instaurado após a Revolução Islâmica de 1979, os cães tornaram-se também um símbolo da “ocidentalização”.
“Os debates em torno desse projeto de lei começaram há mais de uma década, quando um grupo de parlamentares iranianos tentou aprovar uma lei para confiscar todos os cães e entregá-los a zoológicos ou deixá-los em desertos”, diz à BBC Payam Mohebi, presidente da Associação Veterinária do Irã e um crítico da proposta.
A iraniana Mahsa agora teme sair de casa com seu cachorro: “Ele olha para mim com seus olhos lindos e inocentes. Está me pedindo para que eu o leve passear, mas não me atrevo. Acabaremos presos”.
Pessoas como Mahsa estão genuinamente preocupadas com o futuro de seus animais de estimação.
Animais em situação de rua
Se nem os animais que possuem famílias estão a salvo, ficamos imaginando aqueles que estão sozinhos, vagando pelas ruas, tentando sobreviver.
As cidades e vilas iranianas abrigam dezenas de milhares de cães de rua que vivem em matilhas em bairros, ruas e áreas arborizadas, geralmente encontrando sua comida vasculhando o lixo. Esses cães passaram a simbolizar a crueldade com os animais no Irã e dificilmente passa um dia sem que a mídia local ou nacional e as pessoas nas redes sociais publiquem fotos deles sendo torturados ou mortos.
Um dos argumentos apresentados por aqueles que defendem a matança de cães é que isso significa que as pessoas viverão em um ambiente mais seguro. Eles argumentam que os cães que vivem nas ruas são portadores de doenças e podem atacar crianças e adultos.
Alguns municípios criaram abrigos, mas os ativistas dos direitos dos animais insistem que mais deve ser feito. Nos últimos anos, vários ativistas criaram seus próprios abrigos para cães abandonados, podendo fazer a diferença para pelo menos alguns deles.