O uso dos testes em animais pode estar chegando ao fim –pelo menos na indústria farmacêutica. Pesquisadores já identificam falhas nesse modelo, especialmente nos desafios para comprovar a eficácia de medicamentos contra o câncer, mostrou reportagem do jornal britânico Financial Times.
O estudo de remédios oncológicos já encontrou um possível substituto mais eficaz: são os chamados organoides –estruturas em 3D cultivadas in vitro semelhantes ao tecido primário retirado de pacientes com câncer.
Pesquisas indicam que esses materiais têm até 80% de sucesso em prever a eficácia de um medicamento. Os testes em animais têm apenas 8% de precisão.
O uso desse método comprovou a eficácia de um medicamento da Lift Biosciences, com sede em Cambridge. A farmacêutica testou antes em camundongos, mas o remédio não funcionou. O motivo: os glóbulos brancos dos animais consumiram a terapia antes mesmo que ela começasse a funcionar. Quando testado em organoides, porém, a droga “destruiu completamente” o câncer.
Os organoides integram o novo campo chamado MPS, ou sistemas micro fisiológicos. Ali são cultivados a partir de células-tronco para criar tecido 3D parecido com os órgãos humanos, só que em miniatura.
“Existem 7 mil doenças raras e apenas 400 estão sendo pesquisadas ativamente porque não há modelos animais”, disse James Hickman, cientista-chefe da Hesperos, uma empresa de organoides da Flórida.
Não estamos falando apenas de substituir ou reduzir o uso de animais, mas preencher um vazio onde não existem modelos de animais para a realização desses testes.
Não só isso, há a questão ética. Ativistas pelos direitos dos animais e ambientais pressionam a indústria para encerrar de vez a exploração animal nos testes em laboratório. A organização Cruelty Free International estima que existem mais de 100 milhões de testes e experimentos em animais no mundo –e pouca ou nenhuma mudança nos últimos anos.
O uso de organoides no teste de medicamentos tende a afetar a produtividade das farmacêuticas em curto e médio prazo.
“Ao permitir testes em materiais biológicos, podemos ter resultados mais lucrativos dentro de cinco anos, o que seria transformador na lucratividade e nos custos das terapias”, disse o pesquisador de biotecnologia Mark Treherne.
Grandes indústrias, como a britânica AstraZeneca e a alemã Merck, já usam a tecnologia para testes. A AstraZeneca está usando organoides simples para prever a segurança de um remédio no cérebro e rins. Outro estudo prevê a criação de um modelo para o sistema imunológico.
O grupo Merck, por sua vez, decidiu em 2020 que eliminaria gradualmente os testes em animais. A empresa está usando organoides de forma limitada, além de tecidos animais e humanos para testar os efeitos dos compostos.