Os produtos à base de proteínas vegetais em breve deixarão de ser chamados de “bife”, “bacon” ou mesmo “linguiça” na França, segundo um decreto governamental publicado na quinta-feira (30), sendo fortemente comemorado pelo setor de exploração animal.
“Não será possível utilizar a terminologia específica dos setores tradicionalmente associados à carne e ao peixe para designar produtos que não pertençam ao reino animal”, indica o texto.
A decisão alega evitar confusão para os consumidores, no entanto, a lei foi fortemente apoiada pela indústria de carne francesa e pelo maior lobby agrícola do país.
O país se torna o primeiro da União Europeia a impor essas restrições a alternativas sustentáveis da carne, que aumentaram em popularidade em todo o mundo.
O decreto, que entrará em vigor em 1º de outubro de 2022, permite, no entanto, a comercialização de “alimentos fabricados ou rotulados” antes dessa data até 31 de dezembro de 2023, o mais tardar.
O texto especifica que os produtos fabricados em outros países não estão sujeitos aos requisitos deste decreto.
Repercussão
O texto era aguardado “há vários anos” e constitui “um passo essencial em prol da transparência da informação ao consumidor, bem como da preservação de nossos produtos e know-how”, saudou Jean-François Guihard, presidente da Interbev, a associação interprofissional de gado e carne.
Todos os principais sindicatos do setor animal saúdam este texto, mas pedem ao governo que “leve o dossier a Bruxelas para alargar o âmbito de aplicação a todos os produtos, independentemente da sua origem”, segundo um comunicado de imprensa conjunto.
Por outro lado, o Observatório Nacional de Alimentos Vegetais (Onav) lamenta que o decreto “coloque a França em uma posição conservadora, contra as questões atuais e a política europeia sobre essas questões”.
“Você não verá nada mais ilusório hoje”, afirmou Nicolas Schweitzer, CEO da La Vie, pioneira em bacon à base de vegetais. “Depois de pressionar pela reindustrialização da França, o governo acaba de aprovar um decreto nos obrigando a realocar”, acrescentou ele por meio de um comunicado nas redes sociais.
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União Europeia
Na União Europeia, é autorizada a designação de produtos vegetais por termos tradicionalmente reservados à carne animal, com exceção dos produtos derivados do leite animal. Por exemplo, não é possível usar a palavra “iogurte” ou “queijo” para uma imitação de vegetais.
A ciência afirma de forma categórica a necessidade de reduzir drasticamente o consumo de carne e laticínios para ter alguma chance de evitar uma catástrofe climática global. Esses ataques descarados à indústria de proteínas alternativas devem ser resistidos a todo custo, por causa dos direitos do consumidor, do suprimento de alimentos e do futuro do planeta.