No dia 2 de setembro, aproximadamente 800 touros partiram do porto de Sète, na França, rumo à Argélia.
Após dois dias no mar, os animais foram recusados no porto argeliano pelas autoridades, que afirmaram que os animais não possuíam documentos comprovando não serem portadores da rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), doença extremamente contagiosa.
🔴Des centaines de taurillons français ont été bloqués pendant des jours au port d’Alger dans des conditions indignes pour un document manquant. Aujourd’hui, ils se dirigent vers Sète pour y être euthanasiés. Analyse d’un scandale🔽https://t.co/HZWXIrdiE0 pic.twitter.com/0dakzAMSxE
— Welfarm (@Welfarm) 21 de setembro de 2022
Após 15 dias parados no local, foi ordenado que o navio retornasse à sua origem, onde foram mortos. Assim, esses animais passaram quase três semanas SOFRENDO a bordo do navio de transporte, em péssimas condições, vulneráveis ao balanço do navio, condições meteorológicas e amontoados em suas fezes.
Vários deles morreram no trajeto. Os cadáveres, bem como os excrementos dos animais, não foram evacuados. As condições de higiene a bordo são, portanto, catastróficas.
![](https://carnenuncamais.com/wp-content/uploads/2022/10/Navio-de-transporte-dos-animais-1024x576.png)
Navio onde os animais ficaram em péssimas condições durante 3 semanas. Foto: Welfarm
O Ministério da Agricultura francês explicou que uma “dificuldade de interpretação” do estado sanitário de três animais foi a causa do bloqueio, assegurando “que não houve violação por parte das autoridades francesas do certificado de ‘exportação’ que permitia a saída dos animais Os touros saudáveis foram vacinados contra a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), mas os documentos anexados ao certificado de exportação continham a menção “IBR positivo”, sugerindo falsamente que eram portadores do vírus, segundo o ministério.
Devido ao fato dos touros terem recebido feno no porto de Argel, as autoridades francesas tomaram a decisão de “sacrificar” e incinerar os animais, devido a febre aftosa que assola a Argélia. O risco de contaminação é “extremamente mínimo, mas não pode ser descartado”, detalhou o governo, especificando que os touros não seriam “colocados de volta no circuito de consumo humano” uma vez abatidos.
“Denunciamos o absurdo da situação. Os animais ficaram presos por 15 dias no porto de Argel antes de serem repatriados para a França para serem finalmente sacrificados. É muito sofrimento desnecessário”, disse Judith Dei Rossi, representante da Welfarm.
Welfarm e outras associações de direitos dos animais não foram os únicos a destacar o absurdo de tal situação. “Me pergunto se não havia a possibilidade de tomar uma decisão diferente”, disse Jacques Molières, presidente da câmara de agricultura de Aveyron.
Milhões de animais vivos exportados todos os anos da França e da União Europeia
Todos os anos, os países europeus exportam milhões de animais vivos para fora da UE, principalmente para o Próximo e Médio Oriente.
Em 2018, só a França exportou 69.625 bovinos e 2.323 ovinos e caprinos. Em 2020, chegou a liderar as exportações europeias de bovinos. Em toda a UE, 626.000 bovinos e 2,2 milhões de ovinos e caprinos foram exportados por mar em 2018 da UE.
A legislação europeia deve considerar as expectativas dos cidadãos
No final de 2021, a Comissão Europeia realizou uma consulta pública como parte de sua estratégia “da fazenda à mesa”.
Esta estratégia visa rever toda a legislação europeia em matéria de proteção animal a partir do final de 2023. Os resultados desta consulta refletem as crescentes preocupações dos cidadãos em relação ao bem-estar dos animais de criação em todas as fases da sua vida (criação, transporte, abate).
No que diz respeito às exportações de animais vivos para países terceiros, 94% dos europeus são favoráveis à sua proibição. A Comissão Europeia deveria responder às expectativas dos cidadãos e incluir esta proibição na futura legislação. É hora de acabar com o martírio dos animais no Mediterrâneo.