Vicenza, uma cidade no norte da Itália, não vai mais sediar a maior feira de caça do país: o HiT Show (Hunting Individual Protection Target Sports).
O grupo que costumava organizar essa feira, Italian Exhibition Group (IEG), informou que por motivos de “valores ambientais” decidiu não propor mais esse tipo de evento.
O HiT recebia milhares de visitantes todos os anos e era descrito como “o ponto de referência para os amantes do mundo da caça”. Os cerca de 500 expositores participantes apresentavam uma variedade de armas, troféus de caça e outros equipamentos relacionados a “esportes” sangrentos.

HIT Show 2018. Foto: Piacenza Più
A decisão foi comemorada pela organização Humane Society International Europa (HSI/Europe).
“Apoio a decisão do grupo IEG de não mais organizar a HIT Show, a maior feira de caça da Itália que teve 40.000 visitantes e centenas de expositores internacionais por ano”, disse Martina Pluda, diretora italiana da HSI.
💪 Accogliamo con favore la decisione di IEG Italian Exhibition Group SpA di non riproporre più HIT Show. La sua dismissione è un forte colpo all’industria e un chiaro segnale che speriamo molte altre società colgano. #HSI #NotInMyWorld #NonNelMioMondo #BastaCacciaAlTrofeo pic.twitter.com/qN08ADFP0T
— HSI Italia (@HSIItalia) 28 de setembro de 2022
Italianos são contra a caça de troféus
O cancelamento do HiT Show é considerado um “forte golpe” no setor de caça de troféus. Além disso, serve como um sinal claro de que a opinião pública não apoia mais a prática.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela HSI/Europa ao Savanta ComRes, 86% dos italianos pesquisados se opõem à caça de troféus de todos os animais selvagens, 88% concordam que os italianos não deveriam importar troféus de caça de outros países e 74% apoiam uma proibição total sobre a exportação e importação de troféus de animais mortos de e para a Itália.
“Os caçadores de troféus da União Europeia matam milhares de animais selvagens em todo o mundo, incluindo espécies ameaçadas de extinção, sendo a Itália um importante destino de troféus”, afirmou Pluda.
Pluda observa que a HSI/Europa investigou eventos HiT anteriores, onde vários expositores ofereciam viagens de caça de troféus para abater espécies protegidas. A organização chamou isso de “irresponsável” diante de uma crescente crise de biodiversidade, além de antiético.
Mobilização contra a caça
A HSI/Europa também está liderando campanhas para proibir a importação de troféus de caça para os países da UE. A esperança é que tal medida diminua a demanda por caça e, por sua vez, salve espécies já vulneráveis de um declínio ainda maior. Especificamente na Itália, o grupo está buscando uma proibição geral da importação, exportação e reexportação de troféus de caça de espécies protegidas.
Entre 2014 e 2020, a Itália importou 437 troféus de caça de espécies protegidas internacionalmente, como hipopótamos, elefantes, leões, leopardos, guepardos, ursos pardos e ursos polares. O país é um dos cinco países que importou pelo menos um troféu de rinoceronte negro criticamente ameaçado.

Uma mãe e um bebê rinoceronte negro em Lewa Conservancy, no Quênia. Foto: David Clode
Pluda acredita no fim dessa crueldade:
Com a apresentação de um projeto de lei sobre essa questão, demos o primeiro passo. Confio que o próximo governo vai querer trabalhar para alcançar esse objetivo junto conosco e com o povo italiano, de uma vez por todas.
A HSI/Europa também lançou uma petição pública para acabar com as importações, que conquistou mais de 46.000 assinaturas desde sua criação.
Extrema crueldade
Essa forma desnecessária e violenta de “entretenimento” separa famílias e deixa inúmeros animais órfãos ou gravemente feridos quando os caçadores erram seus alvos.
A caça também interrompe os padrões de migração e hibernação. Para animais como lobos e gansos, que acasalam por toda a vida e vivem em unidades familiares muito unidas, a caça pode devastar comunidades inteiras.
Ruídos altos, como tiros, também podem atrapalhar os rituais de acasalamento e podem fazer com que os animais progenitores fujam de suas tocas e ninhos, deixando seus filhotes vulneráveis a predadores naturais.
São raros os animais que morrem rapidamente, muitos deles sofrendo mortes prolongadas e dolorosas quando os caçadores os ferem gravemente, mas não conseguem matá-los.