Recém-nascidos retirados de suas mães momentos após o nascimento foram “substituídos” por um brinquedo de pelúcia, para que a equipe de pesquisa pudesse entender os mecanismos de apego nos primatas.
Em outro experimento de 2016, os macaquinhos recém-nascidos que foram retirados de suas mães foram mantidos em completa escuridão por até um ano, com alguns deles tendo uma ou ambas pálpebras costuradas. O objetivo dessa crueldade era nunca permitir que eles vissem um rosto, para determinar como isso afeta o córtex visual.
Por 40 anos, a neurocientista da Harvard Margaret Livingstone vem realizando experimentos extremamente cruéis e antiéticos em macacos.
E quais foram as descobertas dessas pesquisas absurdas? Ficar cego no primeiro ano de vida é ruim para o desenvolvimento do cérebro e da visão. Em seu mais recente estudo, “Triggers for mother love” (gatilhos do amor materno), ela concluiu que as macacas ficam angustiadas quando seus bebês são roubados delas. Algo um tanto quanto óbvio e lógico, não?
Livingstone arrecadou US$ 32 milhões em dinheiro dos contribuintes do National Institutes of Health desde 1998 para financiar seu monstruoso reinado de terror.
Mobilização de cientistas
Sua pesquisa provocou uma onda de indignação desde que um artigo apresentando os resultados foi publicado em meados de setembro na prestigiosa revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Na segunda-feira (17), 250 cientistas – principalmente etólogos e primatologistas – escreveram para a publicação pedindo que o artigo seja retirado. Isso seria um movimento raro, e o jornal ainda não tomou uma decisão. Ao ser contatada pelo Le Monde, a revista respondeu que estava “consciente das preocupações levantadas e estava avaliando as críticas formais submetidas à revista”.
“Pedimos que a PNAS retire o artigo da professora Livingstone ‘Triggers for Mother Love’ devido às práticas antiéticas e padrões de pesquisa que promove e seu fracasso no avanço do conhecimento científico”
—Autores da carta aos editores da Proceedings of the National Academy of Sciences
A PETA, que também enviou uma carta à PNAS pedindo a remoção do estudo, pediu a Harvard que encerrasse os estudos de Livingstone e aos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) que parem de financiar o trabalho.
“Os danos a longo prazo que esses experimentos estão causando às mães e aos bebês superam em muito qualquer benefício potencial para os humanos”, disse Katherine Roe, uma ex-psicóloga experimental que estudou o desenvolvimento do cérebro em crianças e que agora atua como chefe de avanço e divulgação científica na PETA.
Os benefícios são sempre ‘potenciais’. Os danos são definitivos.
Métodos utilizados
Se, em alguns dos experimentos os macacos tinham suas pálpebras costuradas (imagens desse experimento não foram divulgadas), em outros, eles eram criados por funcionários de laboratório que usavam máscaras que cobriam todo o rosto.
Esses bebês frágeis e aterrorizados não viram nenhum rosto, macaco ou humano, por um ano. Livingstone então testou suas habilidades de processamento de rosto para ver o quanto eles foram danificados.
Para fazer isso, Livingstone imobilizou suas vítimas indefesas e implantou cirurgicamente um poste de aço em sua cabeça, amarrando seu queixo com força ou forçando-os a morder uma barra. Às vezes, ela implantava cirurgicamente eletrodos em seu cérebro para registrar como suas células cerebrais privadas respondem a sinais visuais.
Depois de anos desse tormento, ela matou muitos dos macacos e dissecou seus cérebros.
Harvard se pronunciou em defesa da pesquisadora
Livingstone afirmou que recebeu ligações e e-mails “violentos, ameaçadores e obscenos” desde que o caso ganhou essa repercussão. Em resposta, Harvard divulgou um comunicado na sexta-feira condenando esses “ataques pessoais”.
Em sua declaração, a universidade disse que todo o trabalho de Livingstone segue rigorosamente as diretrizes federais para pesquisa com animais e foi aprovado pelo Comitê Institucional de Cuidados e Uso de Animais da universidade, projetado para garantir que os animais sejam devidamente cuidados e apenas experimentos necessários ocorram.