Mais de 800 médicos, cientistas e profissionais de saúde se juntaram ao Physicians Committee for Responsible Medicine – PCMR (Comitê de Médicos para Medicina Responsável) – para pedir à revista médica Nutrients que pare de publicar estudos que testam em animais, o que viola as próprias diretrizes éticas da publicação.
As diretrizes da Nutrients exigem a “substituição de animais por alternativas sempre que possível”. No entanto, uma revisão do PCMR mostrou que a regra é rotineiramente ignorada.
“Encontramos artigos em quase todas as edições da Nutrients em que fabricantes de suplementos comerciais, estudantes, membros do corpo docente junior ou outros ignoraram métodos de pesquisa ética que evitariam testes em animais”, disse Janine McCarthy, do PCMR. Em vez disso, disse McCarthy, esses pesquisadores compraram e experimentaram em pequenos animais, particularmente aqueles isentos de requisitos de bem-estar, e então enviaram os resultados à Nutrients para publicação.
Por exemplo, um artigo de março de 2021 publicado na Nutrients focou na pesquisa de propriedades semelhantes a antidepressivos e efeitos comportamentais do açafrão. O estudo usou 50 camundongos, que foram alimentados à força com extrato de açafrão por gavagem e depois jogados em um tanque de água. “O teste de natação forçada é usado como um indicador da vontade de viver do animal”, disse McCarthy, “como se aqueles que lutam por mais tempo fossem menos deprimidos e aqueles que desistem mais facilmente fossem mais deprimidos”.
O teste foi denunciado por líderes da comunidade científica, como Bayer, Johnson & Johnson e GlaxoSmithKline (GSK), e vários estudos concluíram que não é um modelo válido para depressão. Além disso, disse McCarthy, há pouca semelhança entre os sintomas clínicos da depressão em humanos e os comportamentos medidos no teste. O pesquisador teria tido melhores resultados alimentando os humanos com açafrão e colhendo relatos deles em seguida, disse ela.
A Nutrients cobra dos autores aproximadamente US$ 2.600 para publicar seus artigos, o que significa que a publicação fatura mais de US$ 13 milhões anualmente em taxas de autores. Em 2018, os editores seniores das revistas se demitiram, alegando falta de compromisso com a integridade científica.
É vital que os periódicos mantenham suas políticas éticas. Publicar pesquisas de qualidade medíocre que não estão contribuindo para o avanço da saúde pública é prejudicial para a comunidade científica.
Na carta enviada em 12 de setembro aos editores-chefe da revista, o grupo também acusa a Nutrients de violar as regras por estar listada no MEDLINE, banco de dados bibliográfico da National Library of Medicine. Uma carta separada foi enviada à MEDLINE solicitando que limitasse ou suspendesse a participação da Nutrients até que o problema fosse corrigido.