No sul da República do Congo, três bebês chimpanzés, salvos da caça ilegal, foram sequestrados de um santuário para chimpanzés, na noite da quinta-feira, dia 8 de setembro.
“Esta é a primeira vez na África que atacam um santuário para roubar bebês, isso nunca aconteceu antes”, diz Franck Chantereau, fundador do santuário J.A.C.K.(Jeunes Animaux Confisqués au Katanga).
Mas o absurdo dessa tragédia não acaba por aí. Poucas horas após o sequestro dos animais, o centro começou a receber mensagens violentas, ameaças de morte e um pedido de resgate de um valor absurdo (não divulgado).
“Eles avisaram que iam decapitar um dos bebês e mandar a cabeça de volta para nós”, completou Franck.
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JOUR 8 / DAY 8
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As autoridades locais abriram uma investigação e estão levando o sequestro muito a sério. Nos últimos anos, a República do Congo iniciou uma verdadeira guerra contra o tráfico ilegal de animais.
Os bebês roubados têm entre um e quatro anos de idade. Seus nomes são Hussein, César e Monga. Franck conta que “esses três bebês, eles viveram um inferno, tiveram suas famílias massacradas, foram colocados à venda, transportados, até que juntamos enormes meios financeiros para trazê-los de volta ao seu habitat . Eles finalmente tinham recebido uma segunda chance, sua provação havia acabado e agora está começando tudo de novo…”.
Uma realidade de violência e exploração
“Infelizmente, é muito comum que os guardas florestais sejam ameaçados e até mortos. Na África, isso acontece todos os dias”, diz Florence Teneau, da Fundação Brigitte Bardot.
Franck Chantereau confirma. “Hoje os traficantes chegam com helicópteros, bazucas, virou uma guerra”. E fica indignado. “Temos que reagir, não é possível. A opinião pública deve ser mobilizada”. Ele hesitou em divulgar o caso, mas decidiu que um caso desses precisa ser do conhecimento de todos.
O mundo deve saber, cada um vive a sua vida, o seu dia-a-dia, mas a conservação é assunto de todos! É o futuro da biodiversidade, do planeta também, sem falar na preservação das florestas. Se desistirmos, damos razão a eles, somos o último bastião contra a extinção desses animais. Mas a conservação não é brincadeira, arriscamos nossas vidas a cada minuto.
Na República do Congo, o tráfico de animais gera bilhões de dólares. Caçados por sua carne, vendidos a preços elevados, mas também explorados por seus bebês, que são valorizados pelos “amantes de animais raros”, os chimpanzés se tornaram uma espécie em extinção, segundo o WWF. Hoje, existem 300.000 espécimes em toda a África, em comparação com 1 milhão no início do século XX.
Para capturar com sucesso um filhote de chimpanzé, os caçadores matam entre 8 e 10 adultos, o que corresponde a toda a sua família. Isso representa entre 3.000 e 5.000 macacos mortos a cada ano no Congo.
“É colossal, as pessoas acreditam que essas histórias de tráfico não existem mais, que tudo está muito controlado, que hoje é impossível enviar macaquinhos para o outro lado do mundo de avião. Mas esses traficantes, eles são tão bem organizados, é uma verdadeira máfia, eles conhecem todas as brechas, conhecem todas as leis e, na verdade, o tráfico nunca foi tão grande. É só uma moda, uma competição, é como ter um carro bonito, ‘ganha’ aquele que tiver animal mais raro”.
“Há uma forte demanda de zoológicos internacionais”, explica Florence Teneau, da Fundação Brigitte Bardot, “mas também de indivíduos”.
Santuário
Os franceses, Franck Chantereau e sua esposa Roxane, chegaram a Katanga há 18 anos. O centro criado por eles visa impedir todo esse comércio de vida selvagem por meio da aplicação da lei e da gestão de um centro de reabilitação. Concentra-se principalmente em macacos e primatas e, por causa de sua parceria com as autoridades do Meio Ambiente da RDC (Ministério do Meio Ambiente e ICCN), os primatas confiscados são entregues ao J.A.C.K. para reabilitação e liberação futura.