A organização Mighty Earth acaba de lançar um novo relatório e campanha pedindo que o Carrefour aja urgentemente para “limpar” suas cadeias de suprimentos e cortar laços com os comerciantes industriais de carne e soja que impulsionam o desmatamento.
A denúncia, apresentada em Paris na manhã de segunda-feira (5), se concentra na cadeia da pecuária, mas também aponta irregularidades na soja brasileira que chega nos supermercados franceses por meio de frango e ovos vendidos na rede Carrefour.
A ONG indica que o relatório e esta nova campanha – “Carrefour nous enfume”, que pode ser traduzido como “Carrefour nos engana” – têm o objetivo de servir de alerta ao varejista, antes de uma eventual abertura de um processo contra o grupo.
“Dos 102 produtos analisados, descobrimos que a maioria vinha de zonas de risco de desmatamento. Descobrimos também que 12% vinham de abatedouros conectados ao desmatamento em territórios indígenas. Três quartos da venda desses produtos estava ligada à JBS”, afirma Boris Patentreger, diretor da entidade na França.
Podemos dizer que a cada mês, surgem novas denúncias das ligações entre a JBS e o desmatamento. Com essa campanha, pedimos ao Carrefour que, devido a todas as conexões que estabelecemos no relatório, pare de comprar da JBS.
De acordo com o documento, entre os produtos verificados, 12 têm origem em dois dos abatedouros que mais “exportam desmatamento” para clientes do Brasil: Pimenta Bueno e Vilhena, ambos de Rondônia e fornecedores da JBS – que, por sua vez, revenderia a carne ao grupo francês. O controle do conjunto da cadeia do gado, que inclui diversos intermediários entre a fazenda e a prateleira, representa o maior desafio para a rastreabilidade da carne brasileira.
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Demandas da nova campanha
- Corte imediato das relações com as principais corporações responsáveis pelo desmatamento e destruição de ecossistemas naturais, como JBS, Bunge e Cargill.
- Adoção a proibição do desmatamento agora, e não em 2035. Neste momento, o Carrefour alinhou sua meta de desmatamento zero com a JBS, dando à empresa licença para desmatar por mais treze anos.
- Adoção e implementação de uma política clara de “Zero Desmatamento, Zero Conversão” que melhore a transparência e a rastreabilidade de todas as suas cadeias de fornecimento de carne e soja com efeito imediato.
- Definição de políticas claras para exigir que os fornecedores reduzam suas emissões de metano e outras formas de poluição climática e façam a transição para proteína animal sustentável usando práticas agrícolas regenerativas.
- Aumento das vendas de proteínas vegetais e alternativas à carne como parte de um esforço mais amplo para reduzir significativamente as vendas de proteína animal, atingindo pelo menos 15% das vendas até 2030.
- Aumento do apoio do Carrefour ao monitoramento independente da cadeia produtiva de carnes no Brasil.
Caso semelhante com o grupo Casino
Em março, a rede de supermercados francesa Groupe Casino, concorrente do Carrefour, foi processada na Justiça de Paris por ligações com carne bovina contaminada por desmatamento fornecida pela JBS de fazendas na terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
Foi uma iniciativa legal da Mighty Earth e de uma coalizão de representantes indígenas e grupos da sociedade civil que fazem campanha para acabar com o desmatamento e os abusos dos direitos humanos nas cadeias de suprimentos globais. De acordo com as evidências coletadas pelo Centro de Análise de Crimes Climáticos (CCCA) para o caso, o Groupe Casino comprava regularmente carne bovina dos dois frigoríficos da JBS em Rondônia.
Recordes de desmatamento na Amazônia
![](https://carnenuncamais.com/wp-content/uploads/2022/09/CNM-queimadas-amazonia-set-22-300x300.jpg)
Mancha gigante mostra fumaça e fogo tomando conta do sul da Amazônia
A Amazônia brasileira registrou em apenas três dias de setembro um total de 8.740 focos de incêndio medidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Em setembro de 2021, foram registrados 16.742 focos de incêndio pelo órgão — isso no mês inteiro.
Setembro começou mal, mas agosto já havia terminado com 33.116 focos de queimadas na Amazônia, se tornando o mês com o maior número de incêndios florestais da gestão de Jair Bolsonaro (PL), iniciada em janeiro de 2019.
A marca do mês passado supera a do ano de 2019, quando no bioma registraram-se 30,9 mil focos, chamando a atenção de todo o planeta e gerando uma série de reações de governos e entidades internacionais.